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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Paternidade



Nunca, em toda minha vida, tinha imaginado que estaria em frente àquela porta. Eu ainda hesitava em bater. Dentro daquela casa, podia estar o meu pai. Meu pai.

Há algumas semanas, descobri pela minha avó, com quem eu morava, pensando ser órfã, no seu leito de morte, que meu pai ainda vivia e conseguiu falar, entre uma respiração arfante e outra, o endereço dele. Quando eu perguntei se ele sabia sobre mim, ela deu seu último suspiro.

Eu pensei muito antes de tomar esta decisão. Eu estava horrivelmente triste e desamparada com a morte da pessoa que eu considerava minha família. Mas cá estou eu – em frente à porta de uma casa verde-claro. As janelas estavam limpas e o jardim aparado. Perguntei-me se ela tinha uma esposa. Uma madrasta. Era muito para mim. Talvez eu devesse desistir.

Não Tiffany, gritou meu subconsciente, você não gastou semanas pensando os pós e contras sobre essa visita, veio até aqui, se preparou – ou quase – emocionalmente, para desistir na hora H!

Eu sabia que meu subconsciente estava certo. A cada segundo me convencia mais disso.

Finalmente, suspirei e tomei coragem para apertar a campainha.

Demorou só alguns segundos para a porta ser aberta.

Quem abriu a porta foi um homem com aparência de ter 40 anos, pois os fios grisalhos pelo cabelo denunciavam isso. Ele tinha uma aparência boa: pele aparentemente saudável, sem nenhuma mancha visível, somente umas poucas rugas nos olhos. Ele tinha uma estrutura física boa: não era gordo, nem muito magro. Ele olhou para mim, esperando eu dizer algo.

- Sim? – ele perguntou.

- Ah, oi, desculpa. Você é Joel Nascimento?

- Sim, quer alguma coisa?

Engoli seco.

- Eu sou Tiffany La’Fair.

Ele ficou totalmente sério e enrijeceu-se ao ouvir meu sobrenome, provavelmente.

- Você é parente da...?

- Rebecca La’Fair? – interrompi-o. Ele piscou uma vez e considerei um sim – Sim. Ela é minha mãe.

Senti-o arfar e perde o equilíbrio por alguns segundos, mas depois se recompôs.

- Então, como vai sua mãe?

- Vai morta – respondi totalmente séria.

- A Rebecca morreu? Onde? Como? Quando?

- Há cinco anos. Acidente de carro. Ela e meu pa... padrasto morreram entre as ferragens – eu ia chamar o meu padrasto de ‘pai’ pois era isso que eu achava que ele era...

- Padrasto... – ele parecia estudar a palavra, triste por saber que minha mãe o havia superado há muito tempo. Mas então, ele levantou a cabeça, me analisando, parecendo compreender minhas palavras – Padrasto? Quantos anos você tem querida?

- 20.

Ele pareceu estar fazendo as contas.

- O que você veio fazer aqui? – Antes que eu respondesse, ele me interrompeu, parecendo sem ar: - Quem é seu pai?

Suspirei. Não sabia mais para quem esta situação estava mais difícil.

-Acho que posso responder essas duas perguntas num a só resposta – eu estava respondendo friamente e não sabia por quê. Acho que porque ele parecia saber o que eu ia falar e estava fazendo aquela careta de horror disfarçada: - No leito de morte, minha avó Júlia me falou, há algumas semanas, que o João não era o meu pai. Ela me disse que eu tinha um pai vivo e verdadeiro e ele morava aqui. Hum, eu tinha um pai e nem sabia – isso eu disse para mim mesma. Depois olhei novamente para ele – Você é meu pai, Joel.

Exatamente na hora em que terminei de falar, Joel pulou em cima de mim e me abraçou. Pude sentir suas lágrimas em meus ombros e ele me apertava cada vez mais forte. Eu não sabia se retribuía ou não o abraço, mas antes que decidisse, ele se afastou um pouco e ficou me olhando.

- Você é tão parecida com a Rebecca, oh meu Deus, você é tão parecida com...

- Joel! Quem é na porta? – Uma voz feminina gritou de dentro da casa, interrompendo-o.

Ele continuou sorrindo.

- Vamos, entre. Quero que conheça minha mulher, sua madrasta, e seus irmãos!

Ele me puxou, mas eu fiquei parada onde estava.

- Irmãos? Eu tenho irmãos?

Ele deu um sorriso compreensivo.

- Tem. Dois na verdade. Um garoto de 15 e uma garota de 12. Christian e Roberta. Venha.

Respirei fundo e segui-o.

Há alguns minutos eu não tinha mais ninguém e agora eu tinha uma família. Com irmãos e tudo! Eu não acreditava no que estava acontecendo!

Um comentário:

  1. Eiii
    pega la no meu blog um selo *---*

    http://pensamentosflutuaam.blogspot.com/2011/01/selo-de-qualidade-projeto-creativite.html

    Beijão

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