Oito horas da manhã, e bate o relógio. A Sandy Ella se acorda, não só com o relógio, mas com passarinhos azuis, que cantam ao pé do ouvido dela uma bela, hm, canção de pássaro... até um travesseiro interromper. Sandy se levanta e vai recuperar seu travesseiro sujo de sangue.
- Inúteis – resmungou ela, jogando o travesseiro de volta pra cama e arrastando os pés para o banheiro.
A cabeça dela doía. Ela não devia ter bebido tanto ontem à noite. Acordar da ressaca é sempre uma merda. Sandy ainda estava com o micro vestido apertado da balada quando foi tomar banho.
Depois de botar a roupa brega e rasgada de empregada, Sandy vai para a cozinha imunda da casa da madrasta preparar a tequila que ela dá dizendo que é chá. As meias-irmãs nem desconfiam também. Até gostam. Sandy sabe por que. Como dizem ‘ Santa ta no céu’.
Sandy que não é besta nem nada aproveita e pega um pouquinho para ela também. Chá sempre faz bem, não é? Ela termina de pôr a mesa e vai levar – mais u ma vez- o chão encardido. Os ratos vinham até onde Sandy limpava como se fossem conversar com ela. Claro que sempre se tinha ratoeiras à mão.
Sandy não podia sair, tecnicamente, mas era a rainha da night. Numa noite ela foi a mais “popozuda”, mesmo sendo uma tabua, imagina.
A madrasta e as meias-irmãs de Sandy já tinham descido e tomavam café quando a campainha tocou. Era o carteiro com contas, contas, mais contas, um cartão novo, mais uma conta e convite para uma festa que o filho do prefeito ia dar. Escondida, Sandy abriu o convite, tirou Xerox e colocou de volta no envelope e deu para as meias irmãs. Anastésia e Drizze quando viram o que era, deram um grito de Restart e foram correndo procurar o vestido mais curto. Sandy riu da cara das idiotas e foi ler seu convite xerocado. Ela sabia que ia ser numa escuderia e ia ser na noite que ela não precisava sair escondido para ir paras as baladas. Ela deu um ‘UHUUUUU’ digna de rockeira de verdade - mesmo sendo baladeira – e foi procurar no guarda roupa mixuruca a roupa mais “Ke$ha” que ela tinha.
Chegando o dia, Sandy terminou a faxina na casa mais cedo e colocou o vestido de lantejoula brilhante que cobria até a calcinha, os coturnos de camurça e um quilo de glitter nos olhos. Quando já tava pronta para sair, Anastésia e Drizze já iam sair também e a p*ta da madrasta também viu Sandy e disse que ainda tinha sobrado os pratos que ela ainda ia comer para lavar e Sandy não ia poder ir.
Sandy fez o maior barraco maior que todos os barracos do Rio junto e nem assim a madrasta deixou. Sandy disse que já era maior de idade que a madrasta se lixasse (não com essas palavras, claro). A madrasta e as meias irmãs puxaram a linha solta que segurava as lantejoulas e do vestido sobrou nada. Só de fio dental, nossa heroína teve que voltar pro quarto dela. Como não tinha mais nenhuma roupa limpa para usar decidiu não ir mais. Até que se lembrou do becão.
Sandy colocou qualquer roupa e foi lá no becão. No becão tinha o Fado, o travesti-vende-tudo. Sandy fugiu pelas portas dos fundos, como sempre fazia, quando saía escondido e contou para o Fado a situação. O Fado mexeu nos produtos dele e de lá tirou o vestido mais bonito que você imaginar para Sandy. Ela ficou super contente (menos com o preço) e vestiu-se ali mesmo e comprou também “vale-táxi do Fado”. O táxi do Fado era laranja-abóbora e, claro, todos olhavam para ele.
Quando Sandy chegou à festa do filho do prefeito, viu Anastésia e Drizze tentando dançar perto de Príncipe – o nome do filho do prefeito. Sandy riu, empinou a bunda e desceu até o chão aproveitando a noitada. Vendo aquela loura fatal já bêbada, Príncipe largou as irmãs de Sandy e foi se atracar com ela. Deu tempo para uns beijinhos, uns abracinhos, mas ela tinha combinado do Fado ir buscar ela meia-noite então ela saiu correndo e deixou o scarpin verde cana dela lá. Mas Sandy não era burra. Desde que ela lera a história da tal Cinderela, ela sempre cola no sapato, o nome dela e o número. Então ela voltou despreocupada para casa.
No outro dia, Sandy trabalhou feliz, porque tinha gostado do beijo de Príncipe passou o dia todo esperando ele ligar.
Passou-se uma semana e nada.
Então ela foi infeliz até a próxima noitada e se acabou até amanhecer! Até porque, ela não ia esperar o príncipe ligar duas semanas depois, pedindo permissão para a madrasta para sair com ela e caso ela não deixasse (o que aconteceria) ele recitaria ‘ SE O AMOR DELA MORRESSE, eu arrancaria seu coração do peito e beberia seu sangue!’ A tá. Até porque, né, hoje em dia Príncipe é vampiro, sacaram?
Texto para a 2ª Edição Alternativa e 6ª Edição Gênero-Situação
HUAUHAUHAUHUHAHUAUHAUHAUHAHUUHAUHAHUA
ResponderExcluireu ri muito!