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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Love versus War

Amanheceu. O azul do céu foi a primeira coisa que encheu meus olhos ao acordar. Levantei-me com um sorriso no rosto por, finalmente, haver uma manhã ensolarada nesses tempos tão tristes de Guerra. Fiquei ainda mais feliz por lembrar que meu pai era um sargento aposentado e estava no aconchego de casa. Suspirando, aproveitando a sensação boa, tomei banho e desci para tomar o meu café. Papai e mamãe ainda estavam na mesa. Papai, como sempre, com seu jornal na mão. Ele sempre teve essa mania, mas com o inicio da Guerra e sua “impotência” para com o país (que nem sequer estava no meio disso, pelo menos ainda, o que o irritava ainda mais) ele não largava sua nova edição da manhã.

- Bom dia! – exclamei para os dois, dando-lhes um beijo em cada na testa.

- Bom dia filha – respondeu mina mãe, entre um gole e outro de café quente, um produto brasileiro que valorizamos muito.

- Kate, minha filha, você já leu essa manchete? – falou meu pai, ignorando minha recepção totalmente.

Como o meu noivo era soldado da Marinha Brasileira, meu pai achava que eu já sabia de todas as notícias relacionadas à Grande Guerra de primeira mão. Como se, em pleno inicio de século XX eu pudesse ficar sozinha com ele sem meu pai por perto muitas vezes...

- Não, pai, eu acabei de acordar, não estou sabendo de nada... –respondi pacientemente.

- Pois então tu saibas agora! Aqui diz que o Brasil declarou oficialmente ontem, 4 de agosto de 1914, neutralidade na Grande Guerra!

Quando meu pai falava da Grande Guerra, a primeira coisa que me vinha à cabeça era o Eduardo, meu noivo. Eu estava contente pelo Brasil não ter demonstrado, em nenhuma nota oficial, qualquer participação com a Guerra. Agora, com está notícia de neutralização do país, não sabia o que esperar. Não sabia se iam precisar convocar a Marinha – ou pior, o meu Eduardo. Eu temia por ele, principalmente por ele trabalhar na água, onde é distante da terra, da civilização e obviamente de atendimentos médicos. Todo o alívio e sensação boa ao acordar foram embora dando lugar às palavras do meu pai.

Logo após o café, quis ir ver o Eduardo. Ele estava de folga por um mês, para poder visitar a família e a mim. Agora ele sempre tinha tempo para mim, para recompensar o tempo em que ficava trabalhando na Marinha.

Quando cheguei lá, ele tinha acabado de acordar e estava tomando banho. Quando foi tomar seu café, sentei ao seu lado, para aproveitar cada minuto caso ele tivesse que voltar de sua folga mais cedo – e talvez nunca mais voltar.

- Porque está tão aflita minha Kate? – ele perguntou, aparentemente preocupado.

- Então não soube? O Brasil anunciou que está neutro na Guerra.

- Sim, eu soube disse, ora – ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Ele me olhou mais atentamente e se ajeitou na cadeira – Mas não entendo... O que te preocupa? O Brasil está neutro! Não estamos contra ninguém, então ninguém está contra nós!

- Não estamos contra ninguém... Mas também não apoiamos ninguém!Isso me aflige. Vai que há um ataque, aqui no Brasil! Claro que a parte mais afetada vai ser aqui no Rio de Janeiro, ora. Além de que, me aflijo por você, para caso convoque você para lutar na Guerra...

Eduardo chegou mais perto de mim e colocou sua mãe quente em meu rosto, obrigando-me a olhar para ele de qualquer modo.

- Katerina, olhe para mim. Tu não deves se preocupar tanto. Estou aqui, estou com você... E eu te amo, lembre-se disto. Lembra do que eu te disse quando tive que voltar para a Marinha na primeira vez desde que estávamos juntos?

Assenti.

- Mesmo longe, estamos juntos.

Então ele me roubo um beijo sujo de geléia.

Voltei para casa acompanhada do Eduardo, mas, apesar do que ele me disse mais cedo, ainda tinha uma pontinha de aflição apertando o meu peito. Meu pai como sempre, me esperava com um olhar apertado na varanda. Ele cumprimentou Eduardo educadamente, e sentamos no banco que ficava de frente para a cadeira do papai.

Desde que começou a Guerra, papai e Eduardo só falam sobre isso. Eu fico lá, a escutar o que eles dizem, sem eu poder (ou querer) interromper.

No outro dia, amanheci ainda com relutância sobre o Eduardo ir pra Guerra, mas menos tensa do que ontem.

Repeti a mesma rotina do outro dia, mas quando cheguei na casa de Eduardo, ele não só já estava acordado, como já fardado e de malas prontas.

- Kate – ele começou quando eu alternava olhares com as malas e ele -, quando cheguei de sua casa ontem, eu recebi uma carta em que teria que ir ajudar a Marinha. Vou embora hoje. Queria poder ficar mais tempo com você, ou poder ter te avisado antes, mas não quis atrapalhar seu sono, já que eu vi como você estava aflita ontem... Por favor, não me odeie e...

Interrompi-o com um ‘shh’, meus olhos cheios de lágrimas. Tentei processar todas as informações na minha cabeça.

Ficamos um minuto em silêncio, olhando um para o outro, até que Eduardo quebrou-o continuando, com um ar triste:

- O meu ônibus sai daqui à uma hora. Daria-me a honra de ir comigo até a rodoviária?

Assenti com a cabeça, ainda mais triste. Meu Eduardo... Meu Eduardo... indo para a Guerra. Será que ele voltaria para o calor dos meus braços? Será que ao menos ele voltaria para mim? Vivo?

As perguntas continuaram rodeando minha cabeça no caminho até a rodoviária todo. Quando chegamos lá ele largou as malas no chão e deu um logo abraço em sua mãe, que estava aos prantos. Cumprimentou o pai e os outros parentes ali presentes e por fim, me deu um beijo. Esse beijo foi quente, foi desesperado e sutil ao mesmo tempo. Era realmente como um beijo de despedida. Quando separamos nossos lábios, colocamos testa com testa, olhando-nos nos olhos.

- Mesmo longe, estamos juntos – disse ele.

- Mesmo longe, estamos juntos – repeti.

Separamo-nos com muito afeto: ele, de dentro do ônibus, ainda me disse adeus, com a mão. Conservei-me à porta, a ver se, ao longe, ainda olharia para trás, mas não olhou...

Dois anos se passaram e só recebi mais ou menos 10 cartas do Eduardo. Ele disse que havia sido transferido para outro país que não estava autorizado a dizer o nome, ajudando as vítimas de lá. Ele sempre me dizia que tentava arranjar uma folga de pelo menos 1 semana para passar com a mãe e comigo, mas o trabalho era muito. Há algum tempo, não recebo mais suas cartas, o que me deixa mais desconfortada. Toda noite, sonho com sua morte, imaginado qual teria sido sua última palavra e se teria algo haver comigo ou com sua mãe.

Papai leu no jornal que um navio brasileiro, o Rio Branco, havia sido afundado por um submarino alemão. Meu coração parou. Mamãe tentou me aliviar lendo que a maior parte da tripulação era norueguesa, mas, para o navio ser brasileiro, algum brasileiro tinha de estar lá. E eu sentia que meu Eduardo estava lá.

Algumas semanas depois, quando conseguiram resgatar alguns corpos, os pais de Eduardo foram ver se ele estava no meio. Inicialmente, a mãe dele não queria ir e nem saber, de fato. Mas, no final, ela deixou que o seu marido acabasse com a aflição.

Acabou que piorando a tristeza de todos.

Realmente, o corpo de Eduardo estava lá, morto, frio. Totalmente sem vida. Ele, de fato, tinha sido um dos poucos brasileiros do barco.

A mãe de Eduardo entrou em depressão, alguns meses depois. Eu, somente, ficava quieta no meu canto, fingindo conversar com a alma de Eduardo até amanhecer.

ps: Todas as informações sobre a Primeira Guerra Mundial contida aqui nesse texto são reais (pelo menos de acordo com o Wikipedia), mas a história de Katerina e Eduardo não é verídica (pelo menos até onde eu sei, né? ‘-‘)

4 comentários:

  1. *-* texto perfeito!
    Você errou algumas palavras, mas se nao fosse isso, teria um 10!

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  2. Gostei, muito criativa a história. Peninha foram os erros.

    Laysa, avaliadora do Projeto Créativité.

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  3. ainda tem erros? G-G eu concertei da outra vez... vou procurar de novo né ._.

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